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Simplesmente escuro. Bastante escuro.
Era profundo o meu respirar. Até as paredes adormeciam de o escutar.
Depois, aquele ruído do abismal e falso tintilar, estoirava-me o pesadelo. Obrigava-me a estalar a dorsal, a alongar braços e pernas e a expressões pouco senhoriais. Sentava-me rijo que nem um naco de carne ensanguentada.
A muito custo, arrastava-me sobre o chão falhado e rugoso. Já não era apenas eu nem a vontade, ou outra coisa qualquer capaz de me desculpar. Arrasou.
Apreçava-me a bom ritmo, para não perder a leveza da batalha. Fui de boleia com D. Sebastião, a par de um arrepio sofrido e vingado. Era feito de deambulações, aparado pelas pedras enterradas da avenida. "Já estão cá há tantas décadas!", pensava. Sempre fortes e delicadas. E eu, de tão novo me achar, fazia-me sofrido, cheio de fendas aqui e ali.
Apaguei-me. Preferi assim. Enjoado de tanta lamúria, balançava a música que me chegava. Só isso. Um pedaço receptivo e incrédulo.
Fumava filtros de ar enquanto a composição se atrasava. Cansava-me sempre a mesma ladainha. Mas, matar o tempo atraí-me sempre alguma preferência. Tal e qual uma multidão atrairia um serial killer. Revirava os olhos por detrás das lentes e envolvia a imaginação, a rotina das pessoas e, sobretudo, a minha. Especulava, desejava e rapidamente descartava.
De agasalho apertado, interrompia-me a vibração da partida. Chegava finalmente o número 24 que confundia, vagamente, com o 29. Volta e meia confirmava o bilhete para não ser observado tantas vezes nas carruagens lotadas.
Vincava o cruzar de pernas e pendurava-me naquele lugar. Incomodado pela demora do Revisor era difícil concentrar-me. Despia, desaproveitava, desconcertava... Enfim. Parecia eu que esperava um fantasma. Após alguns remates, encarnei aquele momento. Conduzia-me por caminhos pouco habituais mas confortáveis à reflexão. Se pudesse descreve-los a todos não conseguiria. Saboreá-los era perdição. Agridoce.
Porque o meu dilema tem ausência de cor. Chamo-lhe Amor.