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Os sinos tocaram. Eram sensivelmente 6h da tarde. De curiosidade acertiva, o ponteiro marcava os 55 minutos. Confirmaram-me no outro dia, a vizinha do R/C, à porta da igreja, que eram as "Avé-Marias". Mas afinal que pessoas serão estas que se arrastam por razões mais ou menos funebres?
Já era de noite. As luzes apontavam para lugares incertos, e a minha dúvida continuava lá. Cinco minutos depois interrompida, de novo, por aquele som. Na ausencia de livros, aventurei-me pela blogoesfera e deparei-me com algo de interessante. Não pelo cariz, mas pela profundidade histórica.
Tentei viajar no tempo, algumas décadas atrás. Eram 22h, e o recolher obrigatório teria sido ainda antes do pôr do sol, logo após às Trindades. A privação religiosa submetia-se a um silêncio assustador. Das profundezas da terra resuscitavam almas penadas, bruxas, lobos, demónios...
As noites de Inverno eram sempre mais penosas. O nevoeiro, misterioso, anulava qualquer acaso. E entregavam-no ao destino de um rosário. Ouvia as brasas da lareira a arrefecer e escondia a cabeça.
As angústias, as tristezas, os desalentos, as perdas do dia morriam ali. Naquela escuridão, naquele recatamento. Longe de tudo e de todos.
Não sou católico mas hoje compreendo. Há algo de enigmático nos lugares de oração. Talvez a quietude, a mesma daquelas noites. Aquela que nos obriga a purificar o espírito até ao tocar das almas.